Descripción de A ARTE PELA ESCRITA OITO
Em tempos que já lá vão, cada homem e cada mulher sabiam bem o que era plantar uma semente, ou uma estaca, ou um rebento, prestar-lhes os cuidados devidos, que cada um quase nascia já a saber, de tanto ver os mais velhos, até ficar à espera, mais vezes de pé que sentado, pois o chamamento das tarefas por fazer era contínuo e eterno, para finalmente apreciar o fruto dos seus cuidados, uma planta forte e viçosa, cumpridora da missão para que fora plantada. Hoje, quando já poucos sabem de que cheiro é a terra, resta a cada homem e a cada mulher fazer outras plantações. Ato tão nobre como o de engravidar a terra é também este, o de engravidar o papel (ou o ecrã do computador). Mais nobre ainda era esse trabalho de encher a terra de vida quando era feito em comum, uma manada de homens e mulheres ombreados na solidariedade de todos de que cada um, em certos momentos do ano, precisava, um todos em que cada qual se incorporava quando lhe tocava cumprir a sua parte no pacto de solidariedade. (Não há solidariedade maior quando o mal é de todos, e por isso também a precisão.) Assim, cento e vinte e quatro lavradores do papel, calejados no duro ofício de cultivar palavras, responderam ao apelo ancestral da comunhão de suor para um dia de malhadas, de ceifas, de vindimas e juntaram-se na obra comum, onde cada qual se pode mirar, apreciar o seu quinhão de esforçoà mas também o dos outros. Porque, afinal, se trata de uma Arte Pela Escrita que foi feita por todos.